28.11.01

na Widebiz

Gosto de debater com o Luiz- M (em itálico). Ele é um cara que enxerga a Internet de maneira inteligente, muito embora, creio que discordamos de muitos pontos. Mas é essa discórdia que faz o debate ser mais interessante. Não existe uma verdade... pois as verdades também são conversações.

Em pequenas empresas on ou off-line até é possível adotar a conversação como querem o Manifesto Cluetrain e o Hernani Dimantas (não resisti Hernani, não concordo com a totalidade do manifesto, acho anti-corporativo demais, impraticável para esta e pra a próxima geração de empresários...e também de clientes...), mas para grandes empresas isso é inviável...

Bem, acho que você está por fora. Você não entendeu o que são as conversações nos mercados. Conversar é anti-corporativo, ok... empresas não conversam... pessoas conversam. Mas chutar que é impraticável sem conhecimento não é admissível. Todo o movimento Open Source está baseado nessas conversações, a Internet está baseada nas conversações... o que mais você quer? Exemplos não faltam, mas não vou ficar destrinchando os mercados pra você. Aprenda a conversar na rede e vai entender.

Primeiro porque precisaria de uma equipe MUITO maior e depois todos teriam um Salário MUITO maior também, o que encareceria os produtos e o cliente perderia pra um concorrente que não tem o mesmo atendimento, mas tem o preço 20 % mais baixo..)

Não... não ... e não. É lógico que o atendimento dos Call Centers precisam ser melhorados, isso se faz com melhores pessoas. Mas dê condições dos teus funcionários trabalharem como seres humanos e não como um número... deixe os desenvolver seus projetos e incentive....

E como fazer isso ? esquecendo essa besteira de foco no cliente.. Não pitei não, nem to desmentindo tudo o que falei até hoje, tem um artigo novo meu na Widebiz que fala exatamente sobre isso o Erro do foco NO cliente...

ok... o foco é do cliente, pois o poder de mercados está deixando os clientes mais inteligentes do que a própria empresa... e este poder está tendendo a passar da mãos das empresas pros clientes... estes são os novos mercados. Acho que já falei disso... e mais: os mercados são conversações... heheheheeh

Mas você continua falando em Comunicação...

Internet é mídia... multimídia e interativa.

Quem vai fabricar o Aparelho de TV ? Os carros ? Sem o mundo corporativo Não vai haver devices para que o mercado converse...Se for conversar boca a boca voltamos pro século 13, antes de Guttenberg...

O modelo de gestão está mudando muito rapidamente. As empresas tem que entender isso. Estava relendo "O Ócio Criativo", do Domenico De Masi, é exatamente sobre isto que ele está falando. Penso que é uma tendência... e tem muita gente debatendo sobre isso. Tom Peters está revendo o gerenciamento de marcas, Peter Drucker diz que "a mudança não se gere", o Cluetrain apresenta idéias para a destruição do mundo dos negócios como conhecemos. Não digo que sou contra as empresas... Vivo trabalhando para elas, mas a maioria das corporações tem que enxergar as mudanças que estão acontecendo no mundo dos negócios. Isso não é sonho. E esta mudança esta sendo catalisada pela Internet. Não despreze essa conversação.

Concordo que o mundo tá mudando, mas não concordo que o Firewall Corporativo vai cair, nem nessa nem na próxima geração, estamos falando de, no mínimo, 20 anos...

Pense bem. Num primeiro momento a Widebiz foi um case de sucesso na Internet (faz tempo que deixou de ser). Foi o novo. A construção de uma comunidade suportada por uma empresa enfocando negócios. Apesar do desinvestimento da Widesoft no negócio Widebiz percebemos que houve uma fixação de marca. Widesoft significava arrojo de marketing. E pauta de revista e jornais. A Widesoft rompeu o firewall e apostou na rede (é lógico que a estratégia poderia ser mais contundente) .

São esses cases que interessam para quem faz marketing. A utilização de uma mídia de forma ousada. O Linux fez isso com a industria de software. O blog do comando de greve da Gazeta fez isso. Estou propondo uma nova forma das empresas se relacionarem com a rede baseado na realidade que vivemos.

Se você der uma olhada no interiorzão do Brasil vai ver economia rural, com ferramentas (arado manual) usado exatamente como há 4.000 anos atrás... Em muitos locais ainda existe economia extrativísta, coisa de 6.000 anos atrás, sem escrita onde toda a tradição ainda é falada...

A idéia Open Source e, mesmo do Cluetrain, faz referência aos trabalhadores do período pré industrial. O sentido da tecnologia é trazer o ser humano a sua essência de humano. O trabalho, segundo uma pesquisa do Mídia da Paz (por Oriana White), é considerado como responsável pela falta de paz (e considere paz no sentido mais amplo). A sociedade moderna tende a odiar o trabalho da maneira que ele é. As pessoas buscam qualidade de vida, e isso pode acontecer com algumas transformações que a tecnologia proporciona.

O Hacker é considerado um artífice, um designer é um artista, a Internet possibilita essa relação amadora, e isso não significa que não seja profissional ao mesmo tempo. Eu me baseio nessa cultura, e é por isso que criei o Marketing Hacker.

Mas é lógico que o mundo dos negócios não é nivelado. Enquanto discutimos Internet, os jogadores de futebol recém estão deixando o feudalismo com a extinção da lei dos passes. Estamos falando sobre negócios no ambiente digital, o que significa que estamos na ponta da tecnologia..

Que projeto Open Source ? O que vejo de sucesso no Open Source é o Linux... Bancado pela IBM pra deter a Microsoft...Os bancos de dados continuam corporativos...Apesar de bons produtos do Open Source não tem a mesma penetração que o Linux...

Você está enganado... o projeto Linux absorve muitas empresas... como a Red Hat, Mandraque, Caldeira, Conectiva, projetos mais evangelizadores como o Debian...... a Sun... outras ... outras...

Open Source... leia também.. apache, zope, sendmail, fetchmail... e quase tudo que faz a Internet funcionar.

Se o mercado são conversações o resultado dessas conversas é que o Open Source não é tão melhor que a MS assim... Não sou eu que digo, são os mercados, segundo a Netcraft

Não sou contra a Microsoft. Sou a favor dos mercados. E advogo pelos mercados.

Digo que estamos num momento de transformação. Muitas empresas compraram o Vignette (que é proprietário e caro) e não utilizam o Zope (que é livre.. através do download no site da Zope). A gerência prefere comprar MS. Por que? Para a corporação é mais seguro... a gerência fica respaldada... e coisas e tal. Como disse: conviver com a transformação demanda ousadia

Levando em conta o Open Source estamos falando apenas de uma industria muito particular, o software..

Você não leu o Manifesto Cluetrain.... Estou afirmando que os mercados são conversações: Postei no Marketing Hacker que a Cora Rónai editora do O Globo, além de blogar, colocou todos os seus jornalistas na linha de frente blogando. Rompendo o firewall corporativo. Ela entendeu o poder destes micro canais.

Hoje, eu acredito, que a comunidade blogueira ( se é que podemos chamar assim ) é onde estão acontecendo as maiores novidades da rede. Num verdadeiro projeto colaborativista estamos criando uma mídia mais poderosa do que tudo que aprendemos na Internet até agora. Os blogs são muito mais efetivos para a divulgação do seu projeto pessoal do que as listas e sites comoditizados.

E o resto ? E as industrias de bens físicos ? de bens de capital e de consumo ? Você acredita em uma "TV Open Source" em menos de 20 ou 30 anos ?

Acredito... como posso afirmar que hoje fazemos o NovaE... uma revista digital... totalmente sob inspiração Open Source. Estamos assistindo muita coisa na rede criada através da inspiração Open Source. Ou você acredita que os grandes canais vão se manter intatos. Veja as rádios na Web... qualquer um pode ter a sua... TV não será diferente. Temos tecnologia para fazer uma TV mambembe com muito conteúdo... e selecionar na diversidade da Web qualquer outra programação. Internet é bricolage, onde você vai pegando uma coisa aqui, outra lá e montando a sua própria linguagem.

Uma coisa eu acho engraçado Hernani...Tenho muitos amigos nesse "Mercado Corporativo", e eles me julgam anti-corporativo, maluco, sonhador...Bom, gostaria e te apresentar pra eles... ahahahahaha...

É exatamente para esse pessoal que estou falando. Lembro do Miopia em Marketing, do Theodore Levitt. Os empresários da industria ferroviária certamente acharam o cara doido. Eles vão acabar entendendo... ou sei lá...

27.11.01

no joelhasso

"Creio que estas impossibilidades (temos que entender que a rede é uma sucessão de protocolos e programas que visam manter uma certa segurança, mas que ao mesmo tempo é aberta na concepção. É uma rede vulnerável a exploração) deixam o nosso sistema virtual totalmente aberto para uma infinidade de crimes. Estamos preocupados com os ataques dos vândalos contra o patrimônio das empresas ou do governo. Mas o contrario também é verdadeiro. Isto é, preocupados quando as empresas invadem e corrompem a privacidade dos indivíduos. Os legisladores, portanto, não podem simplesmente ignorar esta situação, e privilegiar um lado em detrimento do outro, apesar da influência do poder econômico e de outros interesses escusos. A saber, a nossa imprensa, nossos legisladores, e pessoas ligadas a Internet comentam exaustivamente os ataques dos supostos "crackers", mas não dão o espaço necessário para a invasão da nossa privacidade. Parece que ninguém se importa realmente com este assunto. O que não deixa de ser verdade, mas o desinteresse é obra do desconhecimento."

Não sou paranóico com a privacidade. Penso apenas nas limitações da liberdade. Ao mesmo tempo que o anonimato é bom, também é perverso. E dependendo da situação temos que tomar posições. Anonimato é péssimo para o debate entre pessoas, mas é ótimo para navegar pela rede. Concordo com o Izquierdo quando diz: "Não estou defendendo a mentira, mas não acredito em sistemas que controlam algumas maneiras naturais de agirmos. Se é para não roubarmos e não mentirmos, que seja por decisão própria, não porque é perigoso..."

Mas penso que o problema não esta na dualidade entre segurança e privacidade. Está no debate ético. O pensamento burocratico sempre pregou o comando e o controle, e a sociedade industrial passou a assumir o papel de rebanho. A Internet abre espaço para uma nova ética. assumimos um bom senso diferente. Aceitamos coisas que não aceitavamos, e negamos o estabelecido. Penso que esta conversação entre pessoas é algo muito mais poderoso do que qualquer legislação de privacidade. Pessoas tendem a ser mais inteligentes e cientes do que querem. Temos que fortalecer esse debate.
idiosyncratically subjective but engagé
Reflexão

Eu comecei a atuar na rede preocupado com a privacidade dos usuários. Faz parte de um pensamento digital que defende os direitos das pessoas comuns. Nestes tempos defendi fervorosamente o anonimato, a ponto de confundir o anonimato na rede com a privacidade do usuário.

Tive um debate consistente com o Roberto Cury faz algum tempo numa lista chamada Widebiz. Cury mostrou os problemas do anonimato sob a ótica técnica, e embora filosoficamente eu continuava militando, a ligação entre privacidade e anonimato começou a se esvair. Percebi que o anonimato tinha desvantagens no âmbito da rede. E nem sempre significava privacidade, e as vezes, era o contrário. Anonimato podia significar irresponsabilidade.

Pois os anos passaram. O meu projeto pessoal transformou- se no Marketing Hacker. Onde faço um trabalho de antimarketing, isto é, o marketing sob o ponto de vista dos mercados. Eu advogo pelos mercados.

Assim, percebi que o fator preponderante no desenvolvimento da Internet está no poder dos mercados. Pessoas comuns conversando na rede. Mas para esta conversação ser responsável no ambiente anárquico o debate deve ser levado por pessoas reais. Não tenho nada contra o discurso pré adolescente envolto por "nicknames", mas para quem quer levar a voz um pouco além do cotidiano, o anonimato passa ser perigoso.

Não gosto de padronizar projetos. Pensar no blogger, e similares, como movimento é um equivoco. O blogger é uma ferramenta de atualização de sites. Eficiente e rápida. Este furor de publicações pessoais dão o tom da conversação. Antigamente eram as BBS, Usenet, Telnet. Depois sites pessoais e listas de debates. Agora são os citados blogs. Isso é moda. Prefiro a palavra evolução. Provavelmente, em breve, veremos uma nova ferramenta tomar conta da rede.

Estou atento para o debate que acontece. Pessoas comuns desenvolvendo projetos pessoais interessantes. Muito mais forte do que um curriculum vitae online, ou uma monografia que ninguém lê.

Neste momento, percebemos que esses blogs estão criando um debate incrível. Numa dinâmica irresistível as pessoas colocam a boca no trombone. Falando de coisas relevantes e sem censura. Os grandes canais de comunicação não tem essa abrangência. Não podem falar como humanos, pois sobrevivem pela arbitrariedade do broadcast. Pessoas falam o que querem.

Esses micro canais de comunicação estão criando uma micro audiência. Sob a ótica da comunicação de massa esses números são ridículos. Mas 100.000 de ridículos podem gerar um tráfego interessante. E é por esse caminho que a Internet se direciona.

No entanto, se toda a cultura Hacker está baseada na reputação, onde fica o sujeito apócrifo. Não digo que um nickname não possa ter reputação, mas suas críticas deverão ser análises por critérios muito diferentes. Pois não existe um limite entre o anonimato e a parcialidade. Eu não confio em pessoas sem rosto. E isto não tem nada a ver com virtualidade. Navegar anonimamente é muito diferente do que utilizar a voz anônima para criticar, prejudicar e, outras vezes, apenas bajular. Na Web não vale o verso: "Navegar é preciso, viver não é preciso". É preciso viver...