4.10.01

Artigo Infeliz

Deu no Webinsider uma nota sobre blogs. Por infelicidade do autor, ou por um dever corporativista, o blog foi tratado como uma ferramenta que outrora fôra considerada banal, agora, sob a batuta de alguns jornalistas tornou se algo amadurecido. Alguns blogs foram citados, mas parece que o autor Fabio Fernandes não quis entrar a fundo neste movimento. Deixou de criar uma grande matéria. Citou 3 blogs, sendo que apenas o Samizdat do Guilherme Kujawski tem estórias para contar. Tanto o InternETC, como o Franco Atirador são novatos nesta publicação pessoal. Apesar de gostar do blog da Cora, creio que ainda não é exemplo de nada. É apenas uma boa promessa. Ahhh, citou o Catarro Verde, mas apenas pela obrigatoriedade de creditar o mais famoso dos pioneiros.

Mas se o ponto de convergência está na atuação dos blogs, no ataque de 11/9, vale lembrar que o Cris Dias e a Deb deram uma cobertura pessoal muito mais interessante do que a pesteurizada CNN. Não teve blogueiro que não visitou. O autor da matéria omitiu esse fato.

Não dá para falar sobre blogs sem mencionar o Nemo Nox, a Hyper Speed, Calvin One, Alfarrábio, Delícias Cremosas, Tipuri , o Marketing Hacker e mais trezentos outros blogs que estão hyperlinkados. Subvertendo a ordem e mostrando o poder das conversações nos mercados. A maioria destes minúsculos meios de comunicação não são coordenados por jornalistas tarimbados. É a renascença da publicação autoral dando voz a pessoas comuns. Todos estes enfocam os acontecimentos com uma visão particular. Este é o novo sistema...

Faz tempo que blog não é diário de adolescente. É uma ferramenta que temos a liberdade de usar como queremos. A relevância do texto não é o critério de análise. É mais importante analisar o movimento que se consolida nos mercados. Esqueça o diário adolescente, esqueça as bobagens que encontramos. Esqueça os artigos vazios. Pense na exuberância da voz.

3.10.01

Nesta semana contamos com um artigo da mais nova colaboradora: Naomi Klein. Jornalista Canadense, uma das lideres do movimento anti- globalização e autora do NoLogo, um dos mais polêmicos livros de negócios (sic) e afins. Estamos muito felizes em poder contar com os artigos de Naomi Klein. São vozes do centro da terra que tem ressonância com o trabalho que estamos desenvolvendo no Brasil. E mostra uma tendência forte da revista do Nova-e em buscar vozes diversificadas em todo o mundo. É a união de posições globais que interessa a todos. Isso é a Internet.
Conduzindo nossos Líderes
Naomi Klein

O que aconteceria se os nossos lideres estivessem, de fato, nos levando em consideração? Ao invés de ficar por aí? Se eles deixassem as pesquisas de opinião e se reinventassem para ser os lideres que nós dizemos que queremos? Que se empreendem na guerra não porque deixaram de encontrar uma resposta eficaz ao terrorismo, mas porque nós dissemos aos coletores de informações que estamos ficando impacientes?

De acordo com o New York Times, 58 por cento dos Americanos apoiam os esforços de guerra, mesmo significando que milhares de civís inocentes serão mortos. Podemos, realmente, conviver com isso? Eu não estou falando apenas sobre moralidade, mas sobre estratégia também. Podemos sustentar os efeitos deste dano colateral?

Dano Colateral é uma jargão usado para descrever as conseqüências “não intencionais” da guerra, os civís inocentes que morrem pela chuva de bombas. Mas existem outras conseqüências não intencionais da guerra. Tantas que a CIA inventou a frase que descreve o que acontece quando decisões de tempo de guerra retornam para “assombram” as pessoas que fizeram isso: blowback

Nos relatórios sobre a vida do Osama bin Laden está claro que ele é um produto das conseqüências “não intencionais” da guerra. Se você tem estômago para entender a sua perversa ideologia, apenas siga os efeitos do dano colateral.

Bin Laden recebeu treinamento e o gosto da guerra enquanto lutava contra a invasão Soviética no Afeganistão. Durante a Guerra Fria, o governo americano não considerou que seu fanatismo religioso era anti- ético para a civilização. Esta é a retórica corrente. Naquele tempo, a CIA os considerou valiosas armas para lutar contra o Comunismo. Mais do que uma ameaça a civilização. Embora não diretamente, o financiamento, o treinamento e as armas fornecidas pela CIA, abriram os caminhos dos rebeldes islâmicos no Afeganistão. O plano todo tem uma lógica: qual será o melhor método para atacar um exército de ateus do que, silenciosamente, “envolver” seus exércitos que acreditam estar iluminados pela fúria de Deus?

Apenas agora foi divulgado que todo o dinheiro, e encorajamento, fez muito mais do que atacar os Soviéticos. Também criou um sentimento de invencibilidade entre os rebeldes: Se o Jihad Islâmico venceu uma super potência, por que não venceria o outra? Chame isso de dano colateral retardado da Guerra Fria.

Mas esta herança sozinha não criou Bin Laden – mais danos colaterais eram necessários para isso. Nascido na Arábia Saudita, e crítico da monarquia do seu país, o ódio de Bin Laden aumentou quando os EUA tornaram a Arábia Saudita a sua base de operações durante a Guerra do Golfo. A presença Americana tornou um símbolo do novo imperialismo para muitos muçulmanos: onde os auto- proclamados guerreiros pela liberdade fazem alianças com as monarquias autoritárias. Tudo pelo sagrado solo islâmico. Para os militares americanos, esses exércitos de novos inimigos, provavelmente, pareceram não trazer conseqüências. Era apenas um infeliz dano colateral da guerra do Golfo.

E o que segurou a fúria de bin Laden durante esses anos? Ele clama estar se vingando de mais um dano colateral: as crianças mortas durante as sanções no Iraque, a fabrica de produtos farmacêuticos bombardeada no Sudão.

Terroristas, embora poucas vezes eles adotam este nome, são salvadores de ninguém, são guerreiros pela liberdade de ninguém. Eles são, no entanto, espertos na manipulação da injustiça real para atender aos seus fins. Se confirmar que o bin Laden é responsável pelos ataques, temos que olhar para ele pelo que ele é: uma metáfora do fanatismo diabólico. Mas também, o substrato e a pervertida progênie de todas essas conseqüências “não intencionais” da guerras passadas e presentes – um Frankstein de danos colaterais

Para os terroristas, os danos colaterais não são uma ameaça. É o combustível: cria , alimenta e sustenta os terroristas

É algo para lembrar quando nos apressamos em deixar trilhas frescas de danos colaterais pelo mundo afora. No Afeganistão, onde um ataque indiscriminado poderá criar outro país cheio de pessoas desesperadas que necessitaram ser ajudadas para derrubar uma brutal ditadura, mas, ao invés disso, sofreram de profunda miséria. No Paquistão, onde a presença americana será para muitos um ato imperialista e de carência religiosa. Nos Territórios Ocupados, onde as forças israelenses estão aproveitando o momento para posicionar ataques que eles não tentariam há duas semanas atrás. Nos nossos próprios quintais, o gosto de vingança, de pessoas pouco informadas do fato, estão dando permissão a ataques racistas em toda parte.

Estamos preparados para mais danos colaterais, ou deveríamos começar a encarar os danos já feitos?

Muitos de nós, incluindo eu, sentimos alguma raiva e tristes pelos acontecimentos de 11 de setembro. Mas se nossos lideres estão realmente nos levando em consideração, nós temos que conduzi- los

Temos que conduzi- los para longe de mais danos colaterais
NovaE... nada mais do que um caso de amor

Conheço a NovaE faz um pouco mais de um ano. Escrevi alguns artigos e enviei para o Manoel Fernandes. Sem muita troca de palavras, meus artigos foram publicados. Alguns como manchetes, outros apenas participavam da edição.

Ficava feliz de ver meus artigos publicados. Chamava a minha atenção o cuidado que o Manoel tratava os artigos e principalmente a maneira que elaborava a edição. O NovaE, então Nova Economia, aparecia como um expoente diferencial num mar de sites nivelados por um conteúdo comoditizado.

Percebi que o NovaE era mais do que um site. É uma revista digital. Independente e engajada numa revolução digital. Onde pessoas comuns fazem da voz o veículo para as transformações.

Na internet somos todos publishers. A cada dia isto se torna mais real. O trabalho pessoal tem uma força surpreendente. E pensar numa revista, talvez, fosse um contra senso. Mas o Manoel mostra que a força da publicação autoral pode ser replicada por uma linha editorial contundente.

Em fevereiro de 2001 fui convidado para ser um editor especial. Não sabia o que isso significava. Não sentia que essa era minha função. Eu apenas tentava reproduzir as novas tendências do mundo dos negócios. Esta experiência, no entanto, mudou de uma forma significativa a minha concepção de marketing. A idéia jornalística tem muito mais sentido no ambiente web do que a propaganda. O jornalismo passou a assumir as funções da propaganda no relacionamento com o marketing. É lógico que de um ponto de vista completamente diferente. Pois, diferentemente da era industrial, na era do conhecimento a busca é pela informação pertinente.

Sob este ponto de vista, continuamos a revolução do NovaE utilizando o conceito da Informação Criativa. O marketing viral brota dos porões da rede, e a Informação Criativa busca uma aproximação com seus mercados, criando ações editoriais provocativas e engajadas. E através de um crescente boca a boca montamos a nossa estratégia de conversações.

Acredito que estamos tendo êxito e conquistando um espaço significativo na web brasileira. Sem investimentos promíscuos, sem o velho oba- oba e buscando as vozes do centro da terra.

Pois é, o NovaE é “open source” na sua idéia original. É o espaço onde as vozes dos mercados incitam a revolução digital. Mostrando que estamos cansados do velho sistema. Buscamos novidades. Vivemos num novo sistema. Ainda com cara de fantasia. Mas estamos sentindo que existe algo diferente no coração de silício. Estamos na hora das pessoas comums falarem. Somos o poder no novo sistema. Sem eleições, sem liderança central e com a mente aberta. É um sistema colaborativo. E desta forma que as vozes estão espalhando a palavra liberdade. O novo sistema é real também.