21.7.01

PARCERIAS E FRACASSO

Não sei quem começou com esta estória de classificar tudo como parcerias. Foi na corrida do ouro de tolo. Antes da explosão da bolha do Nasdaq. Parcerias eram estimuladas. Troca de Banners, enxerto de conteúdo. Qualquer fórmula para comoditização dos sites.

Essa é a bagagem que vem junto com o do chamado marketing de relacionamento. Um processo espontâneo de promoção e reprodução de idéias engendrados por uma idéia mercadológica caótica e tendenciosa. Na verdade, replica o capitalismo produtivo e esconde a revolucionária idéia por trás da difusão da comunicação.

Estamos acostumados com processos reativos. Propaganda de massa. E o marketing de relacionamentos sustenta a fórmula da máxima exposição. Sem os cuidados necessários para distinguir o joio do trigo. Misturando conceitos num mar sem ondas.

Estamos vendo isto acontecer na rede. As comunidades criam clones. Cópias não identificadas de conteúdo, onde, ao invés de agregar valor às matérias nivelam por baixo e restringem o crescimento de idéias.

Engraçado que esse conteúdo é gratuito. Mas as vedetes deste conceito de parcerias acreditam que o conteúdo deve ser cobrado. No entanto, jogam suas palavras desconectadas da realidade, sem um tratamento editorial razoável e tentando se valer da exposição de massa para angariar remuneração. Quem vai pagar por um conteúdo comoditizado? Quem faz a diferença?

Aonde estão as parcerias? Quando se fala em dinheiro essa idéia cai por terra. Ninguém paga ninguém. O capital usa a força de trabalho para manter a equação equilibrada. Esquecem que os dois lados tem que vencer. Um verdadeiro conflito entre a teoria e a prática, num processo de engessamento onde alguns ganham e muitos perdem.

Penso que o conhecimento deve ser livre. Não gratuito e muito menos participar de um processo de repercussão comoditizante. Idéias, análises e pensamentos mais que esquizofrênicos devem ser remunerados pelos grupos interessados em informar na internet brasileira. Talvez não da forma convencional, mas além de uma promessa de parceria desigual.

As grandes corporações devem agregar valor aos profissionais para criarem ações criativas de comunicação, da mesma forma que pagam para as agências de propaganda criarem peças publicitárias. Pois na internet, o jornalismo e a informação articulada vêm substituindo a passos largos a propaganda no processo mercadológico. Empresas comerciais têm que entender que existe um custo subjetivo para estabelecer todo esse processo. A disponibilização dessa criatividade e talento é a maior fonte de visitação para os sites. As empresas vão acabar entendendo que o marketing deixou de ser monopólio das marcas e foi transferido à difusão do conhecimento.

Informação Criativa é isso. Um processo que eleva o conteúdo informativo para uma posição vantajosa no ambiente digital. Afinal, somos as pessoas que estão fazendo essa pequena comunidade marginal crescer na rede. Sem subsídios financeiros para destrinchar os caminhos das pedras.

Essa estória de parcerias, no entanto, é uma cegueira coletiva. Fomos chamados para uma reunião com uma incubadora. Estavam interessados em parceria. Pensei! o que será que eles têm para oferecer? Não esperava nada, pois gato escaldado não se ilude com falácias. Mas fui surpreendido. Ao invés de pagarem para ter as nossas análises, eles queriam vender cotas de patrocínio. Não perceberam que não preciso da pequena exposição. Tenho minha reputação digital formatada para os meus interesses. Eu escolho parceiros por afinidades. Meus valores são outros. Não vou pagar para transferir a minha reputação. Não preciso disso. Tenho ingresso livre nos mercados!

Essas empresas não têm culpa. Isso é fruto das anomalias criadas por pessoas que, a qualquer custo, precisam dissimular e atingir um público grandioso num pequeno espaço de tempo. A culpa é nossa. Somos desorganizados, gananciosos e impacientes. A reputação deve ser consistente. Trabalhada com engenhosidade e criatividade. Fica a mensagem: parcerias, desta forma, disfarçam o fracasso.