11.10.01

Irresponsabilidade

Listas de debates servem para debater. Aparentemente essa afirmação está correta. No entanto, as listas também são utilizadas para a divulgação de novidades e para a auto- promoção sem vergonha de certos profissionais.

Alguns pensam que podem ir além da conduta normal. Talvez por acreditar que sejam os donos da digitalidade. Ou, simplesmente, por imaginar que tem uma reputação imutável. Mas reputação é algo que se constrói diariamente. Ficar sujo num micromercado é muito mais fácil do que construir com glória a tua estória.

Penso que alguns posicionamentos incomodam. Alguns pensam que debater sobre negócios é a mesma coisa do que falar comercialmente. Se você pensa numa lista como um balcão de negócios... problema teu!. Vejo pessoas tentando entender o novo mundo dos negócios. Vender é muito pouco para esse momento que estamos vivendo.

Mas existe muita irresponsabilidade na idéia da auto- promoção desenfreada. Principalmente, quando a ação parte de pretensos profissionais de marketing na rede. Estes deveriam entender melhor do que ninguém que técnicas marketeiras equivocadas criam sequelas, tais como, as consequências técnicas do spam, a invasão da privacidade e a idiotização do público alvo. Internet não combina com esses fatores.

Lista não tem dono. Existem apenas pessoas interagindo. Uma comunidade se move de forma nômade. Somos seres digitais, e tudo que queremos está a um click do mouse. Logo, quem debate são pessoas. Se existem críticas essas deverão ser difundidas no grupo. Para alguns é um vexame, mas para outros é a maneira que estão encarando o novo mundo dos negócios. Pedir críticas em PVT está em desacordo com o meu trabalho. É a institucionalização do firewall corporativo... ou deste muro de Berlim inverossímil. Para manter a tua reputação saiba entender a rede.

Postar lixo comercial não é necessário. O mesmo antigo tom, as mesmas antigas mentiras. Não é de se espantar que mercados conectados não tem respeito por empresas que não querem falar como eles. Seja criativo, ousado, autêntico e transparente. Não use o microfone virtual como forma de auto promoção. Isso é babaquice. Os mercados estão cada vez mais inteligentes. Elvis disse: "Nós não podemos seguir juntos com mentes suspeitas."

10.10.01

Imagine um grande político estadunidense fazendo um discurso como este abaixo. (Se você não conseguir pensar em nenhum político estadunidense, substitua, então, pelo Martin Sheen.)

Meus caros americanos, é com grande orgulho e verdadeira humildade que anuncio, nesta noite, a minha candidatura à presidência dos Estados Unidos da América.

Dirijo-me a vocês, assim como qualquer outro candidato faz, com uma série de questões e propostas. No decorrer da campanha, estarei falando com vocês sobre cada tópico que cada candidato costuma falar, vocês concordarão com alguma coisa, e discordarão de outras. Mas nesta noite eu quero falar sobre a idéia em que eu baseio a minha candidatura. É uma idéia audaciosa, mas nestes momentos, seria algo requisitado a um candidato para o maior cargo do maior país do mundo.

E essa idéia é exatamente sobre isso: nós somos o maior país do mundo. A maior economia. O maior poder militar. A maior liberdade. O maior espírito. A Guerra Fria acabou, deixando- nos com uma notável oportunidade que devemos agarrar. Em outros tempos, no nosso planeta, quando um país teve um poder similar, aquele país usou o poder de maneira egoísta. Os Romanos tentaram conquistar o mundo. O poder para colonização utilizou a economia e o poderio militar para roubar os recursos daqueles subjugados. Nós, americanos, somos generosos, amantes da paz. Nunca a história – nunca – teve tanta generosidade de espírito combinada com o poder esmagador e riqueza. Isto nos dá a oportunidade única na história de mulheres e homens neste planeta.

Então, isto é o que proponho. Vamos alcançar um objetivo como pessoas. Um objetivo ambicioso. Que vai inspirar a grande ingenuidade americana. Que vai juntar nossa genialidade incomparável para invenção e tecnologia? Que causará um crescimento dos nossos já abertos espíritos. Que vai desafiar nossos cidadãos, nossos homens de negócios e nossos líderes. Façamos um compromisso para os próximos 20 anos, onde a América se desdobrará para melhorar o mundo.

Nós iremos aumentar a qualidade da saúde, não apenas para os nossos habitantes, mas para qualquer pai ou mãe com uma criança doente ou mesmo aos pais doentes. Nosso objetivo é levar atendimento de Saúde a 90% da população mundial em 2021. Vamos descobrir como eliminar a AIDS e faremos com que qualquer pessoa que sofra desta doença tenha acesso a cura, gratuitamente se necessário. E levaremos água potável a 95% do mundo

Nós iremos aumentar o nível econômico, não apenas para os nossos habitantes, mas para todos trabalhadores (mães e pais) que tentam colocar comida na mesa da família. Nosso objetivo é aumentar a renda mínima anual para o equivalente a US$ 5,000. Nosso objetivo é fazer possível que cada criança do planeta receba pelo menos uma refeição nutritiva por dia.

Nós iremos aumentar o nível educacional, não apenas para os nossos habitantes, mas para todas as pessoas queiram aprender. Nosso objetivo é oferecer estudos para 90% das população do mundo.— A propósito, não apenas no seu próprio idioma, mas também em inglês como segunda língua, se assim optarem.

Nós iremos aumentar a qualidade do meio ambiente natural, não apenas para os nossos habitantes, mas para todas as pessoas que respiram o ar da terra, comem os frutos, ou bebem a água. Nosso objetivo, no final de 20 anos, é estar confiantes de que de que o mundo nos sustentará assim como as crianças das nossas crianças das nossas crianças.

Nós iremos aumentar o nível de vida não apenas para os nossos habitantes, mas para quaisquer pessoas que dormem na poeira e acordam para a miséria. Nosso objetivo é fornecer energia elétrica para todo vilarejo. E, fazendo isso, nós forneceremos conectividade para as informações e comércio da internet.
Esses objetivos podem parecer impossíveis. De fato, acredito que esses objetivos, que sugiro nesta noite, não são suficientemente agressivos. Pelo que eu acredito que nós - vocês e eu – estamos viabilizando, nesta noite, algo que iniciará com a juventude conversando entre eles sobre o que poderão fazer para melhorar o mundo, comunidades atuando assistindo as cidades irmãs, companhias prometendo um mundo melhor para os negócios... e isso se espalhará rapidamente entre nossos aliados, e finalmente, sim, até nossos inimigos se juntarão a nós.

Mas como atingiremos esses objetivos? Isto é algo que nós americanos vamos debater e inventar nos próximos anos, e trabalhando conjuntamente com qualquer outro país que tenha vontade no coração para juntar- se a nós. Não daremos dinheiro, e sim ajuda. Nós disponibilizaremos nossas idéias, nosso trabalho e nosso coração. O que estaremos oferecendo, em qualquer caso, será um trabalho conjunto com os países que escolherem aproveitar a mão que estendemos. Nós apenas iremos ajudar da maneira que eles quiserem, de acordo com suas necessidades e tradições. E, assim, iremos aprender com eles também.

E como iremos pagar por isso? Meus amigos, quando algo teve importância histórica, este país sempre deu passos para frente... seja lutando contra o fascismo na Segunda Guerra Mundial, reconstruindo a Europa através do Plano Marshall, ou declarando guerra ao terrorismo no fronte global - não é menos grandioso, nem menos importante. Nós americanos sempre fizemos o que era certo em momentos como este: colocamos nossas mãos sobre nosso coração e prometemos a nós mesmos. Somente, assim, daremos início a um grande diálogo nacional entre corporações, agências governamentais e, mais importante, todas as famílias, sobre o que e como podemos fazer. Somente com esse compromisso nos nossos corações poderemos começar as conversações para descobrir o que é realístico. Esta é a marca das grandes pessoas, assim como dos grandes países: a esperança deles é redescobrir o que é realmente possível. Não devemos nos deixar levar por pessoas de mentes pequenas, que pensam que seus medos e timidez dão o direito de limitar nossos sonhos. Meus amigos, nós vamos dar a essas pessoas esperança também. Fazendo mais do que pensamos ser possível: isto é que os grandes objetivos fazem por nós.

Por que deveríamos nos comprometer a esses objetivos? Porque nós sabemos que são certos. Eles falam das necessidades que vão romper toda a divisão étnica e política. São necessidades humanas. Nós temos o poder de alcançar essas necessidades. Então, façamos. Estaremos construíndo um mundo mais estável. Um mundo mais seguro para todos. Um mundo que tem mais compradores, mais fabricantes, mais vendedores – a mais vibrante e sustentável economia da história. Um mundo onde o fogo do ódio será finalmente trocado por um presente verdadeiramente oferecido. Um mundo onde nós, americanos, damos às nossas crianças o senso da grandeza que lhes foi oferecida e o senso de dever, correção e generosidade que sempre tentamos incutir contra as forças do cinismo.
De fato, estou sugerindo o que nós chamamos de projeto Geração Alpha, pois eu acredito que marcaremos o início de uma nova geração para a grandeza da América e para o planeta que Deus nos deu para dividir.

Por quê faço isso? Porque isso é o que o maior país da história deveria fazer.


Notas


(Acendendo o meu próprio flame)

Primeiramente, este é um experimento em que tenta colocar essa idéia – que a mais rica nação tem uma séria e continuada obrigação para com o resto do mundo – da maneira mais palatável possível para os americanos. Este é o motivo de estar numa forma de discurso, pois usualmente parece mais grandioso. E também, o motivo dos objetivos serem propositadamente vagos e não explicitamente políticos. (i.e., não atente a difusão da democracia e a promoção de liberdade de religião). Primeiro, vamos dizer sim para o crescimento do mundo, e depois vamos debater como fazer.

Em segundo lugar, sim, tem um bocado de imperialismo cultural nisso. Mas menos do que parece (assim espero). Nenhum país terá que aceitar essa ajuda. A forma de assistência deverá ser negociada com cada país; por exemplo, se eles acreditam que a medicina ocidental é uma lata velha, ninguém vai forçá-los a tomar vacina contra a pólio. E quase todos os objetivos são genuinamente universais, pois é um fato que todos seres humanos devem comer, beber e respirar o ar. Se um país encontra valores culturais implícitos aqui, e opta por não aceitar a ajuda, tudo bem. Talvez demorará 10 anos para que o Iraque aceite alguma ajuda, e talvez eles acabaram aceitando a ajuda de Cuba para o treinamento dos profissionais da saúde nos vilarejos. Legal.

Em terceiro lugar, sim, ensinar inglês como segundo idioma é arrogante. Mas também é voluntário. E acredito que é potencialmente de tremenda importância econômica. Se isso causar algum problema, eu retiro a sugestão.

Em quarto lugar, estou sendo sério sobre isso? Para me estender sobre isso, eu adoraria ter um diálogo nacional sobre o que poderíamos fazer para ajudar o crescimento do mundo. Absolutamente!. Para difundir isso: (se) eu acredito que essa idéia particular será adotada? Não, logicamente que não.

9.10.01

Será o fim?

O ocidente insiste num ataque em massa. Cirúrgico e pontual. Nossos líderes ficam por trás do firewall corporativo escondendo as verdades do resto do mundo. A CNN pasteuriza as informações. Nada mais do que a difusão do pensamento ocidental numa espetacular ação. Assim, atuam as empresas... assim atuam os líderes e outros babacas que dissimulam a vida humana na terra. Jogam seus lixos bélicos em cima de quem estiver pela frente. Une-se o útil ao dever cumprido. E assim reciclam a indústria bélica.

Por outro lado, o inimigo trabalha em nódulos. Muitas vezes desconhecem a sua própria liderança. Convivem num relacionamento boca a boca. Reconhecem o bazar como forma de estabelecimento do comércio e das idiossincrasias. Eles conhecem esse ambiente, e, também, sabem que o ataque do ocidente vai provocar a ira continuada. O seu ódio se transforma no medo do inimigo. Eles conhecem essa dor, pois são os danos colaterais da disputa pelo poder, e agora, não parecem que têm muito a perder.

O broadcast está levando a nossa civilização a um caminho sem volta. Eu já vi isto acontecer em Israel. E vai ser repetido no âmbito mundial. Paus, pedras e metralhadoras levam o embate à violência urbana, e agora, global. Essa luta não tem vencedores. Mas os perdedores sempre são as pessoas comuns.

E são as pessoas comuns que estão começando a fazer história. Pessoas que falam com pessoas, e que pretendem incutir um pensamento mais humanista para a civilização. Acredito que só o desmantelamento da ética protestante, onde o lucro é o sentido da vida e o broadcast a mais eficiente forma de dissiminação destas idéias, poderão levar as pessoas a se compreenderem como tal. Pois o broadcast cria uma doença endêmica que é a consequência indesejada desta guerra nas mentes. Esse é o ódio que estamos presenciando.

É hora do diálogo, das conversações... da escovação de mercados numa transferência osmótica de idéias. Ensinando e aprendendo sobre a diversidade da espécie humana. Temos que saber que não existe inimigos reais. São apenas culturas diferentes numa confrontação que perdura por milênios. E se não mudarmos a proposta de diálogo pereceremos numa guerra sem fim.

8.10.01

A doença do Broadcast

David Weinberger nos apresenta algumas lições que já deveríamos ter aprendido. Ele trata a web como um ambiente ingerenciável. Na verdade, se pensarmos bem, não existe nada que podemos gerenciar na nossa vida mundana. Não temos controle das inquietudes. Não podemos adivinhar o que pode acontecer pela frente. São apenas análises de tendências. Um fluxo de informações com um alto grau de opinião pessoal.

Mas eu também não entendo como as pessoas aceitam o contrário. Nossa! como o povo gosta de ser gerenciado... tudo planejado, planilhado e esquematizado para diminuir a fricção entre os seres humanos. Como se um ambiente sem gerenciamento fosse o culpado por estas arestas.

Depois deste setembro mais do que negro (e suas consequências) não teremos mais que explicar o conceito que os nossos mundos não são gerenciáveis. Ficou provado pelo gigantismo dos acontecimentos. O velho sistema não será mais o mesmo. Embora, ainda, são refratários a idéia da revolução do conhecimento. Assim, oO velho sistema existe para controlar as hordas. Os acontecimentos não são gerenciaveis. Mas os sentimentos são gerenciados, e seduzidos por uma campanha de broadcast.

O velho sistema aceita essa invasão. O broadcast faz o trabalho sujo. Amaciando o emocional de pessoas comuns que assumem uma postura coletiva. Propaganda de massa. Essa foi a grande premissa que levou o mundo para o caos que estamos vivendo.

A Internet traz embutido o novo sistema. E broadcast não tem vez. Não funciona. Os mercados são conversações não é apenas uma metáfora atual para disseminar mais um conceito de marketing. Os mercados são conversações é a revolução digital dando voz às pessoas comuns. O poder dos mercados mudaram de mãos. E começamos a perceber que as idéias, por mais esquisitas que possam parecer, flutuam na rede em busca de um debate individual. Criando um fenômeno do coletivo das individualidades.

O novo sistema propõe a conversação como forma de abordagem dos mercados. A rede permite a aproximação individual. O novo sistema é anárquico por natureza. E não se presta à mensagens de cima para baixo. A conversação simula a idéia do bazar, onde as pessoas trocam suas informações num ambiente de baixo para cima. Criando lideranças verdadeiras, do centro da terra.

Creio que a preocupação do David Weinberger é mostrar que apesar do estado de guerra que o mundo tende a viver. Onde o medo rompe as expectativas de progresso.

A doença do broadcast está levando o mundo para uma equação destrutiva. O novo sistema aceita a diversidade cultural. Aliás, somos todos vítimas das consequências indesejadas do velho sistema.